


Edições anteriores
Abaixo registramos os encontros realizados desde março de 2021, com a bibliografia consultada e temas discutidos.

Clube de Leitura 01: Duanwad Pimwana (Tailândia)
Iniciamos um clube de leitura focado em literatura de ficção escrito no e sobre o Sudeste Asiático. A primeira autora agraciada é a tailandesa Duanwad Pimwana (nascida Pimjai Juklin, em 1969), de quem leremos e discutiremos a tradução para o inglês de título Bright (2019, de Mui Poopoksakul).

"Homem algum é uma ilha": Lee Kuan Yew, ou A construção do mito singapuriano
Este encontro dá início a uma série de análises de líderes revolucionários do Sudeste Asiático, na qual discutiremos seu legado e desafios na criação de Estados nacionais arquitetados em plena Guerra Fria.
A primeira edição trata da relação simbiótica entre a vida de Lee Kuan Yew e a história de Singapura, tal como contada por textos biográficos diversos. Observamos um padrão narrativo de biografias até os anos 90 que retratam o pragmatismo de Lee Kuan Yew como a própria alma de Singapura, e justificativa de seu projeto nacional. A biografia "No Man is an Island" (1991), de James Minchin, é um marco por romper com a ideia de que Singapura seria inconcebível sem a figura singular de seu pai fundador, abrindo espaço para interpretações mais críticas de seu legado.
Palestrante: Felipe Vale da Silva
Data: 14/10/2025, 19h (horário de Brasília)
Leituras:
TJS George. Lee Kuan Yew's Singapore (Capítulo 1, p. 7-15)
Michael Barr. LKY. The beliefs behind the man (Capítulo 1, p. 1-6)

Do Reino Eremita às Olimpíadas de 1988 - uma nova imagem da Coreia do Sul no Sistema Internacional
Para que a Coreia do Sul chegasse ao estado atual de sua projeção internacional, ou ao evento chamado de Hallyu, ela passou por diversas mudanças em sua política interna e, consequentemente, na externa. Uma dessas mudanças foi a transformação do país que, em pouco mais de 35 anos após a Guerra das Coreias, conseguiu se adaptar e sediar os Jogos Olímpicos de 1988, um grande marco para o desenvolvimento de sua imagem internacional.
Dessa forma, a presente apresentação busca, a partir da teoria construtivista regra-orientada das relações internacionais, entender como o país utilizou os Jogos de 1988 como um marco para a sua política externa e também para a atribuição de um novo significado de Coreia do Sul no Sistema Internacional.
Palestrante: João Silveira
Bibliografia
Cho, J.; Bairner, A. 2011. The sociocultural legacy of the 1988 Seoul Olympic Games. Leisure Studies.
Cho, J. 2009 The Seoul Olympic Games and Korean society: causes, context and consequences. Loughborough University Institutional Repository.
Cummings, B. 2005. Korea's Place in the Sun: A Modern History. Update ed. Nova Iorque: W. W. Norton & Company.
Unzer, E. 2018. A Montanha e o Urso: Uma História da Coreia. Amazon.
Choi, K. 2019. The Republic of Korea’s Public Diplomacy Strategy: History and Current Status. Los Angeles: Centro de Diplomacia Pública da Universidade do Sul da Califórnia.
Kulbálkovã, V. 2001. Foreign Policy, International Politics, and Constructivism. Em: Kubalková, Vendulka (Ed.). Foreign Policy in a Constructed World. New York: M. E. Sharp.
Lee, B. J. 2019. History of Korea’s Public Diplomacy: From Message Dissemination to Relation Cultivation. 16. ed. Seul: Asian Communication Research.
Onuf, N. 1998. Constructivism: A User’s Manual. In: Kubálková, V.; Onuf, N.; Kowert, P. (Ed.). International Relations in a Constructed World. Armonk: M. E. Sharpe.
Unzer, E. 2019. História da Ásia. Amazon.

A Tailândia em 2025: Uma nova Democracia e a histórica aprovação do Casamento Igualitário
Em 2025, a Tailândia vive um momento decisivo em sua trajetória política e social, marcado por reformas progressistas e debates sobre direitos humanos. O panorama político tailandês voltou a ter as dinâmicas de poder anteriores ao Golpe de Estado de 2014, com as tensões entre conservadores e progressistas. A eleição de Paetongtarn Shinawatra, como primeira-ministra e a divisão da centro-esquerda tornam esse cenário mais complexo. A aprovação da lei do casamento igualitário — um marco que consolida o país como pioneiro em igualdade LGBTQIA+ no Sudeste Asiático, e o terceiro da Ásia a aprovar essa legislação, fortaleceu os Shinawatra na política doméstica e dentro da ASEAN. A proximidade cada vez maior da Tailândia com a China e a sua entrada no BRICS+ aumentou a capacidade da política externa do reino perante seu velho aliado, os Estados Unidos.
Palestrante: Marcus Paiva
Leituras recomendadas:
Thailand and 'diverse sexualites' (2019) – Douglas Sanders.
Thai Legal History: From Traditional Law to Modern Constitutionalism (2021) – Andrew Harding & Munin Pongsapan.
Assista à gravação da 2ª parte do evento: https://www.youtube.com/watch?v=697VG4FgnCM

O Triângulo Dourado: Crimes Transnacionais, Myanmar e ASEAN
O Triângulo Dourado é uma região que chama muita atenção na Ásia, não só por causa de suas belezas naturais e ou por ser a tríplice fronteira entre Laos, Myanmar e Tailândia, mas também por ser um hotspot de crimes transnacionais como tráfico de drogas e crimes cibernéticos. Nessa apresentação, vamos discutir o porquê de isso acontecer, e também como a ASEAN lida ou pode lidar com esses problemas.
Palestrante: João Mateus Paiva Silveira
Leituras recomendadas:
Demas Nauvarian & Putu Shangrina Pramudia. A Long Walk for Nothing ASEAN’s Ineffectiveness in Combating Transnational Organized Crime (2022)
Amer Fawwaz Mohamad Yasid. Drug trafficking from Thailand’s Golden Triangle (2023)
Pierre-Arnaud Chouvy. Drug trafficking in and out of the Golden Triangle (2014)
Ko-lin Chin. The Opium Trade, Chapter 3
Myanmar Opium Survey 2024. United Nations Report
Transnational Organized Crime and the Convergence of Cyber-Enabled Fraud. United Nations Report 2024
Assista à gravação do evento: https://www.youtube.com/watch?v=SSXHD5UhPD8

Misticismo e sincretismo religioso em Java
A ilha de Java possui uma história milenar marcada pela interação entre diversos povos, culturas e religiões. Ao longo dos séculos, diferentes crenças foram difundidas na ilha, como o hinduísmo e, posteriormente, o Islã, que hoje é a religião com o maior número de adeptos na Indonésia. Contudo, diversas tradições ancestrais animistas, anteriores ao próprio hinduísmo, continuam a coexistir com a fé islâmica. Ainda hoje, o animismo está presente na espiritualidade javanesa. Influencia não apenas a religiosidade, mas também o folclore, as artes populares e a literatura. O objetivo deste encontro é discutir como essa confluência de crenças resulta em um sincretismo religioso, no qual elementos do Islã, do hinduísmo e do animismo se entrelaçam de maneira singular.
Palestrante: Cássio Daniel Siqueira
Opções de leitura:
Clifford Geertz. The Religion of Java, 1976 (intro, capítulos 1,2,19)
Assista à gravação do evento: https://www.youtube.com/watch?v=ipNcoxPhGp4

Metrópoles submersas. O problema da subsidência no entorno do Delta do Mekong
O ecossistema do Rio Mekong abrange o sul da China e cinco países do Sudeste Asiático, sustentando mais de 60 milhões de pessoas. Nas últimas décadas, ele vem sido afetado pela construção de diques e pelo desvio de suas águas para irrigação e consumo urbano. Dessas interferências resulta um desiquilíbrio pluvial e do volume dos rios, além de constantes inundações em cidades da região.
O uso indiscrimado de águas subterrâneas e a extração de areia — aplicada na construção de infraestrutura daqueles países — são fatores que assomam ao problema. Uma vez que os sedimentos do rio não são repostos, seu leito recua, permitindo a invasão da água do mar. Isso tem tornado trechos do Mekong inadequados para consumo humano, além de provocar a salinização de suas terras agrícolas que se provam desastrosas para economias rurais como a do Camboja e do Laos.
No próximo encontro, portanto, tratamos de ecologia pela primeira vez: nos valeremos de uma perspectiva das Geociências para discutir soluções e desafios que cidades como Hanói, Hồ Chí Minh, Phnom Penh e Jacarta têm enfrentado conforme afundam, às vezes 8mm por ano, em um mundo de mares ascendentes.
Palestrante: Felipe Vale da Silva
Opções de leitura:
[Aspectos geofísicos:] Best, J; Darby, S.; Esteves, L; Wilson, C. The World Atlas of Rivers, Estuaries and Deltas. Princeton: Princeton University Press, 2024, p. 3, 246-247, 266-267, 337, 339, 355.
[Aspectos políticos]: Valter Peixoto. "Mekong", MenteMundo.com.br (postagem de 8/março/2021). https://mentemundo.com.br/site/2021/03/08/rio-mekong/
[Aspectos sócio-econômicos]: Premrudee Daoroung. "“O comércio de energia ou a nossa vida”: a luta contra as barragens no curso principal do Mekong". Boletím WRM, 261 (16/06/2022). https://www.wrm.org.uy/pt/artigos-do-boletim/a-luta-contra-as-barragens-no-curso-principal-do-mekong
Assista à gravação do evento: https://www.youtube.com/watch?v=iV34Y-w1uRg
Podcast baseado na palestra (versão em vídeo): https://www.youtube.com/watch?v=2Qw9cCizKFc

Disseminando a Democracia na Ásia: O Ativismo Digital da Aliança do Chá com Leite (2020-2024)
Desde 2020, a Aliança do Chá com Leite (Milk Tea Alliance) (ACL), composta por ativistas digitais de Hong Kong, Taiwan, Tailândia e Mianmar, tem desempenhado um papel crucial na formação de um movimento transnacional pró-democracia no continente asiático. Em resposta aos desafios impostos por regimes autoritários, esses ativistas têm utilizado plataformas digitais de maneira estratégica, mobilizando apoio internacional e disseminando informações para contrapor a propaganda autoritária disseminada pela China. A ACL, que catalisou processos de democratização em países como a Tailândia, destaca-se pela adaptabilidade de suas táticas, como o uso de memes, hashtags e relatos em tempo real, que fortalecem a solidariedade transfronteiriça e criam uma frente unificada contra a repressão.
Além disso, os ativistas têm empregado ferramentas de criptografia e de anonimato digital para se defenderem da vigilância estatal, o que destaca o papel das novas tecnologias na mobilização popular contemporânea. Para entendermos as dinâmicas de contestação e a eficácia da ACL, discutiremos as suas estratégias de ativismo nas redes sociais, bem como suas implicações políticas para o Leste e o Sudeste da Ásia.
Palestrante: Henoch Gabriel Mandelbaum (https://x.com/henochgabriel).
Leitura: Roger Lee Huang & Chavalin Svetanant “Challenging digital authoritarianism Milk Tea Alliance and transnational solidarity” In: Amy Barrow & Sara Fuller (ed.). Activism and Authoritarian Governance in Asia. London/NY: Routledge, 2023, p. 130-142.
Assista à gravação do evento: https://www.youtube.com/watch?v=iV3GveaYZtg

A rede literária de Timor
Pretende-se contextualizar os aspectos histórico-culturais de Timor-Leste, principalmente considerando a cosmovisão do povo timorense, assim como abordar a rede literária de Timor como um fenômeno à margem das literaturas majoritárias, e que demonstra a necessidade de revisão de teorias críticas que relacionam nacionalidade de escritores a sistemas literários (fixados a partir da experiência europeia).
Obras e escritores de diversas nacionalidades transitaram ou se fixaram na rede literária de Timor como demonstração de algo caro aos timorenses, a verdade cultural: "almamundo".
Palestrante: Suillan Miguez Gonzalez
Indicações de leitura: António José Borges, "De olhos lavados"; Domingos de Sousa, "Colibere"; Fátima Guterres, "Timor paraíso violentado"; Fernando Sylvan, "Mensagem do terceiro mundo"; João Aparício, "À janela de Timor"; Jorge Lauten, "Coral"; José Manuel Bandeira, "Ita Tímor Oan"; José Jorge Letria, "Timor litania por um povo em pranto"; "Luís Cardoso, "Requiem para um navegador solitário" e "Crónica de uma travessia", entre outros.
Gravação do evento: em breve

Zomia, ou a História anarquista do Maciço do Sudeste Asiático
Entende-se por Zomia um espaço social à prova de poder estatal, onde não se paga impostos, nem se partilha das economias coloniais ou etnonacionais, e tampouco se aceita a presença das polícias ou dos exércitos. Esse espaço se localiza nas regiões montanhosas que dividem Vietnã e Laos, estendendo-se até o Tibet a Noroeste e o Paquistão a Sudoeste. Abarcando 2.5 bilhões km² e 130.000 indivíduos, Zomia é o caso raro no mundo atual de um território anarquista intranacional resistente à penetração de governos há pelo menos dois milênios. Embora venha sofrendo dificuldades de se manter autônomo desde as independências nacionais sul-asiáticas dos anos 1960, o território vem sendo estudado pela etnografia atual de forma a questionar pressupostos formadores de nossa cultura política: o principal deles, o pressuposto hobbesiano da necessidade do Estado como corretivo para o barbarismo inerente a agrupamentos humanos, será aquele que questionaremos em nosso 31º encontro, em discussão que parte das contribuições de antropólogos e teóricos anarquistas Jean Michaud, Nicolas Delalande, James C. Scott, David Graeber e David Wengrow.
Palestrante: Felipe Vale da Silva
Leitura primária:
SCOTT, James C. The art of not being governed: an anarchist history of upland Southeast Asia. Yale University Press, 2009, pp. ix-xv, 1-22.
Opção em português: Nicolas Delalande. "Zomia, lá onde o Estado não está". Tradução de Mateus Bernardino, 2014.
https://mateusbernardino.wordpress.com/2014/04/25/zomia-la-onde-o-estado-nao-esta/
Leitura secundária:
Michaud, Jean. Zomia and Beyond. In: Alexander Horstmann, Martin Saxer, Alessandro Rippa (ed.). Routledge Handbook of Asian Borderlands. Routledge, 2018, p. 73-88.
Assista à gravação do evento: https://www.youtube.com/watch?v=9DQCUCdnU2o
Assista ao podcast baseado no episódio: https://www.youtube.com/watch?v=N0QPeugs2WA

A diplomacia de bambu da Tailândia
Quando a Tailândia entrou noutro período difícil caracterizado pelo conflito ideológico da Guerra Fria, os seus líderes ressuscitaram a estratégia de “dobrar-se ao vento” (ou a “diplomacia de bambu”) para lidar com as mudanças nas relações externas do país.
A maioria dos estudos sobre a diplomacia e a política da Tailândia parecem concordar numa conclusão: a flexibilidade da política externa e a capacidade de adaptação às alterações do equilíbrio de poder conseguiram manter o país longe da ocupação das potências europeias. A principal compreensão do pragmatismo diplomático tailandês é que os líderes tailandeses aceitaram as capacidades do seu país e agiram com entusiasmo em resposta à realidade, e não a objetivos idealistas ou ambições desinibidas. A Tailândia tem deslizado silenciosamente para a esfera de influência da China.
O declínio democrático já não está concentrado numa região ou num continente. Como é evidente há muito tempo, a diplomacia tailandesa tem sido altamente maleável, dependente do cenário global em mudança. Com ênfase na flexibilidade e uma notável história de continuidade, a política externa tailandesa – tal como o bambu – enfrenta novos desafios com raízes sólidas.
“Thai Diplomacy: In Conversation with Tej Bunnag” é um livro que oferece uma visão profunda da diplomacia tailandesa através das experiências de Tej Bunnag, um dos diplomatas mais distintos da Tailândia. O livro foi fruto de uma entrevista e editado por Anuson Chinvanno. Tej Bunnag, que já foi embaixador na China, na França, nos EUA e na Suíça, compartilha suas percepções sobre a política externa e a diplomacia. O livro também destaca alguns sucessos da diplomacia tailandesa, como a participação no Congresso de Versalhes após a Primeira Guerra Mundial e o encontro de 1955 em Bandung, que levou ao Movimento dos Não Alinhados.
Palestrante: Marcus Paiva
Leitura: "Thai Diplomacy in conversation With Tej Bunag". Capítulo 1 (p. 14 a 33) e capítulo 6 (p. 172 a 193).
Assista à gravação do evento: https://www.youtube.com/watch?v=CDV1EmdInmQ

Espíritos, possessão e performance
O intuito deste encontro é discutir a natureza do sincretismo religioso presente na Ilha de Java por meio de manifestações da cultura popular, como a arte jaranan.
Jaranan (do javanês, jaran = 'cavalo'), a dança do cavalo, é uma expressão artística tradicional da Ilha de Java que combina dança, música, teatro e práticas ritualísticas ancestrais envolvendo transe e a inovacação de espíritos. Pode-se encontrária sob diferentets nomes, formas e estilos, a depender da tradição folclórica e religiosa de cada região e de seus praticantes. Suas origem remonta ao período em que os grupos étnicos que habitavam Java praticamente religiões animistas.
Mais tarde, incorporou também elementos do hinduísmo e do budismo, introduzidos na região durante um longo período de contato com a Índia Antiga, como parte de um processo conhecido na literatura como sanscritização do Sudeste Asiático.
Palestrante: Cássio Daniel Siqueira
Leitura: Mauricio, D. E. (2002). Jaranan of East Java: an ancient tradition in modern times.
Assista à gravação do evento: https://www.youtube.com/watch?v=7qBbwtWvFpw

The ASEAN Miracle - resenha do livro de Kishore Mahbubani e Jeffery Sng
O livro trata da organização política que une as 10 nações do sudeste asiático, desde sua criação até os desafios contemporâneos que a região enfrenta por estar ao lado da China e ter fortes laços com os Estados Unidos. Os autores se debruçam sob o contexto histórico do subcontinente para demonstrar a importância e a eficácia da organização, que ao unir povos tão diversos, trouxe paz e um forte crescimento econômico para todos os seus membros.
Palestrante: Valter Peixoto (Podcast MenteMundo)
Leitura: Mahbubabi, K.; Sng, J. The ASEAN Miracle: a catalyst for peace (capítulos 1 e 2), 2017.
Assista à gravação do evento: https://www.youtube.com/watch?v=1SRAftUZj0o

O estatuto do belo na concepção de literatura de Pramoedya Ananta Toer
Este encontro almeja discutir o ensaio "Definisi dan Keindahan dalam Kesusastraan" (a definição de literatura e a questão do belo), do escritor indonésio Pramoedya Ananta Teor, publicado em 1952. Pramoedya é, sem dúvidas, uma das figuras mais importantes para a literatura e a história da Indonésia moderna. Nascido na pequena cidade de Blora, Java Central, em 1925, vivenciou as mazelas da colonização neerlandesa, testemunhou a ocupação japonesa e a subsequente proclamação da independência e participou ativamente da revolução nacional por meio da luta armada e, sobretudo, do seu trabalho como escritor. Pramoedya foi um escritor prolífico, tendo sido talvez o único de sua geração a viver integralmente do ofício da escrita, seja ficcional ou jornalística. Escreveu m grande número de romances, contos, ensaios sobre literatura e crônicas históricas, bem como traduziu literatura em outros idiomas para o indonésio (Bahasa Indonesia), indo de John Steinbeck a Tolstoy. Esse ensaio, escrito poucos anos após a Revolução Indonésia e a libertação do autor em 1949, detido desde 1947 pelo governo colonial neerlandês, é importante para entender a primeira fase de sua estética literária, da sua formação como escritor e do desenvolvimento da sua definição de literatura. Para Pramoedya, a literatura era o fórum ideal para a comunicação de valores e discussão de opiniões; de natureza séria, deveria estar ligada às experiências e à realidade da vida cotidiana do povo, como expressão da consciência da sociedade, sendo o escritor também um educador.
Palestrante: Cássio Daniel Siqueira
Dia 02 de fevereiro, às 19h, online
Leituras:
• Toer, P. A. The Definition of Literature and the Question of Beauty. In: Roberts, B. R.; Foulcher, K (eds.). Indonesian notebook : a sourcebook on Richard Wright and the Bandung Conference. Durham/Londres: Duke University Press, 2016. p. 45-49.
• Heinschke, M. Between Gelanggang and Lekra: Pramoedya's Developing Literary Concepts. Indonesia, n. 61, p. 145-170, abr. 1996.
O evento não foi gravado em função de problemas técnicos.

Duas fases do colonialismo alemão: o caso da Papua e de Samoa
Nossa 26ª edição nos leva à Oceania: tratamos da colonização alemã de territórios que compõem a atual Papua Nova-Guiné e Samoa. Discutimos a administração de Wilhelm Solf da Samoa (1900-1911) e a presença errática de August Engelhardt no então Arquipélago de Bismarck (1902-1919), um dos casos mais picarescos da história colonial oitocentista. O que é à primeira vista um desvio do escopo do grupo de estudos, nos auxilia a entender a expansão da Ethische Politiek neerlandesa – a mesma aplicada na colonização da Indonésia na mesma época – para a Oceania, além dos inúmeros passos em falso do projeto colonial da Alemanha Guilhermina que moldaram a política racial de Adolf Hitler e o partido nazista uma geração mais tarde. Antes do Holocausto, colonos alemães tiveram três décadas de experiência colonial na África e Oceania cujos resultados são, em grande medida, negligenciados pela historiografia e RI brasileiras: dessa experiência pouco lucrativa derivou os primeiros genocídios do século XX (dos povos Herero e Nama na atual Namíbia), os primeiros campos de concentração da história moderna, além do desenvolvimento de tecnologias coloniais precedentes à ideia de Lebensraum, definitiva para a política expansionista hitlerista que culminou no início da Segunda Guerra Mundial no teatro de guerra europeu. Do lado dos nativos, igualmente, vemos importantes desenvolvimentos de tecnologias de resistência anticolonial. Todos serão assuntos tratados nesta edição final de 2023 do grupo de estudos.
Palestrante: Felipe Vale da Silva
Leitura primária:
John A Moses. "The Solf Regime in Western Samoa Ideal and Reality". New Zealand Journal of History, April, 1972, p. 42-56.
Leituras complementares:
Marie Muschalek. Violence as usual: Policing and the Colonial State in German Southwest Africa. Ithaca: Cornell University Press, 2019, p. 1-13.
Corinna Erckenbrecht. "Die wissenschaftliche Aufarbeitung der deutschen Kolonialzeit in der Südsee". Anthropos, Bd. 97, Heft 1, 2002, p. 163-179.

O papel dos militares na política da Tailândia
A Tailândia passou por uma difícil transição democrática em 2023. Há nove anos, às 16h30 do dia 22 de maio de 2014, o general Prayut dava um Golpe de Estado depondo o governo da primeira-ministra Yingluck Shinawatra, irmã de Thaksin Shinawatra, também deposto por um golpe militar em 2006. Em 2017 uma constituição cesarista entrou em vigor com diversas medidas autoritárias, dentre elas, um senado não eleito, escolhido pelos militares. Isso teria impacto significativo em 2023. Ainda em 2009, o general Prayut começou a abertura lenta e gradual para um autoritarismo competitivo, entrando em um partido da direita militarista e concorrendo em eleições parlamentares. Nas eleições de 2023, seu partido perdeu para o partido mais progressista, o Move Forward. Seu líder, Pita, foi impedido de concorrer como primeiro-ministro devido à obstrução do senado não eleito e a uma lawfare. O segundo partido, da centro-esquerda tradicional, acabou por eleger o novo primeiro-ministro em uma transição pactuada. Srettha Thavisin, o mais moderado do partido Pheu Thai, comandou a transição democrática mais cordial já vista na Tailândia. Logo depois da eleição de Srettha Thavisin como novo primeiro-ministro, o primeiro-ministro interino General Prayut Chan-o-cha parabenizou Thavisin na Casa do Governo e desejou-lhe sucesso em seu trabalho. Com esse reconhecimento público da vitória e da posse do novo primeiro-ministro civil, o general Prayuth realizou a passagem de poder de fato.
Palestrante: Marcus Paiva
Leituras:
1) Chambers, Paul. “Military ‘Shadows’ in Thailand since the 2006 coup,” Asian Affairs: An American Review, (Routledge), Vol. 40, Issue 2, 2013.
2) Croissant, Aurel, Kuehn, David, Lorenz, Chambers, Paul W. Democratization and Civilian Control in Asia. Basingstoke: Palgrave/Macmillan (Critical Studies of the Asia Pacific, 2013. p. 21-41; 156-174.
3) BAKER, Christopher; PHONGPAICHIT, Pasuk. A History of Thailand. Cambridge: Cambridge University Press, 2005. p. 104-138.

Literatura indonésia pós-reforma. Principais temas
O cenário da literatura indonésia sofreu uma grande mudança após o fim do regime da Nova Ordem. Novas vozes emergiram, desde escritores antes censurados até forças mais jovens que valem a pena ser lidas. Durante a Nova Ordem, predominou o “jornalismo literário” experimentalista, que buscava revelar as injustiças de uma forma mais suave, bem como escritoras urbanas que escreviam sobre a libertação feminina e que tiveram suas obras rotuladas como “literatura perfumada”. 25 anos depois, a literatura indonésia mudou. Tendemos a ver grandes nomes que ganharam reputação internacional e que apresentam em suas histórias pontos semelhantes: o trauma da violência colonial e militar; o realismo da desigualdade que incide em questões econômicas, culturais e de gênero; e descobertas espirituais, incluindo escapismo e fantasia. Através destes três grandes temas, exploraremos como a literatura indonésia progrediu a partir (ou recriou) formas literárias passadas e quais são os temas menores que emergiram de algumas obras importantes.
Sobre a palestrante: Gladhys Elliona Syahutari, de Jacarta, Indonésia, é escritora, pesquisadora e uma grande entusiasta da literatura e da cultura popular brasileira. Publicou o livro de contos Tentang Desir dan Kisah-Kisah Lainnya (2019), traduziu o conto "Memória expansível" (2022), de Cristina Judar, e mais recentemente o romance "Setenta" (2023) de Henrique Schneider. Ainda este ano será publicada sua tradução de "A hora da estrela", de Clarice Lispector.
Leituras recomendadas:
1. Wayan Sunarta. The island that literature forgot. Qantara, 2015. Disponível em: https://en.qantara.de/content/indonesian-literature-at-the-frankfurt-book-fair-the-island-that-literature-forgot.
2. Martin Maria Schwarz. Indonesian Literature – Discovering a New World. Goethe Institut, 2015. Disponível em: https://www.goethe.de/ins/ph/en/m/kul/mag/20615418.html.
3. Pamela Allen. "The Modern Library of Indonesia: Home of the ‘Classics’?" National Centre for Writing, 2019. Disponível em: https://nationalcentreforwriting.org.uk/writing-hub/modern-library-indonesia/

Taiwan: entre a China e o Sudeste Asiático
Desde o governo Lee Teng-hui (1988-2000) e, sobretudo, na atual administração de Tsai Ing-wen (2016-atual), Taiwan tem voltado os olhos para o Sudeste Asiático: nas últimas décadas desenvolveu-se uma diplomacia não oficial com os países da ASEAN e uma reivindicação de seu status de berço das línguas e civilização austronésias. Políticos taiwaneses, em uma tentativa de afirmar independência da China continental, têm mobilizado argumentos culturais, demográficos e até mesmo arqueológicos para legitimar o caráter sul-asiático de seu país - apesar das raízes étnicas chinesas compartilhadas por 95% daquela população. Hoje, a maioria dos jovens taiwaneses se definem como não chineses; minorias étnicas indonésias, vietnamitas e filipinas ganham proeminência inédita na vida política da ilha; o idioma hokkien vem substituindo o mandarim em repartições públicas, nas artes e na esfera pública. Para pensarmos o atual cenário, discutiremos as origens da província taiwanesa com o regime autoritário do Kuomintang, a "Política Rumo ao Sul" de Lee Teng-hui e sua sucessora (1993-2015), além de tensões geopolíticas com a China de Xi Jinping e o recente Movimento Girassol (2015).
Palestrante: Felipe Vale da Silva
Leitura: Jeremy Chiang & Alan Hao Yang. "A Nation Reborn? Taiwan’s Belated Recognition of Its Southeast Asian Heritage". The Diplomat, 28/set/2018. Disponível em: <https://thediplomat.com/2018/09/a-nation-reborn-taiwans-belated-recognition-of-its-southeast-asian-heritage/>
Leitura secundária: Ja Ian Chong. "Rediscovering an Old Relationship: Taiwan and Southeast Asia's Long, Shared History". The National Bureau of Asian Research, 11/jan/2018, pp. 1-6 Disponível em: <https://www.nbr.org/publication/rediscovering-an-old-relationship-taiwan-and-southeast-asias-long-shared-history/>

Casas feitas de ideias. A circulação do pensamento revolucionário entre lideranças anticoloniais de Timor-Leste na década de 1970
Timor-Leste, o “primeiro país do século 21”, teve sua primeira proclamação de independência em 1975, pela atuação da Frente Revolucionária por Timor-Leste Independente (FRETILIN). De orientação à esquerda, com membros marxistas-leninistas, esse partido liderou 24 anos de guerra com a Indonésia. Nesse encontro vamos conhecer a importância da Casa dos Timores, estabelecida em Lisboa pelos jovens estudantes timorenses, que ao viverem na metrópole entram em contato com as teorias marxistas e com as lutas anticoloniais, tanto dos países africanos quanto asiáticos, que inspiram a organização timorense. Além disso, esse caso nos mobiliza a refletir sobre as possibilidades de “viagens” de teorias e como pensamentos e construções teóricas de outros lugares podem reverberar nas lutas políticas dos países do sul global.
Palestrante: Camila Tribess
Data: 30/06/2023
Leitura primária: TRIBESS, Camila. Casas feitas de ideias: o legado da Casa dos Estudantes do Império para a luta timorense. Revista Oriente n. 29, 2022. (relação entre a formação da Casa dos Timores em Lisboa com as lutas anticoloniais africanas, a partir da experiência da Casa dos Estudantes do Império).
Leitura secundária: DA SILVA, Antero Benedito. “Popular Socialist Democracy of the RDTL 1 1975-1978”. Timor-Leste Studies Association Conference, 2011. (reflexão sobre a reapropriação de teorias marxistas, de Paula Freire, Amílcar Cabral, Mao Tsé-Tung etc., no contexto revolucionário timorense da década de 1970).
SAID, Edward. “Traveling theory reconsidered”. Reflections on exile and other essays, 2000. (nesse ensaio, Said repensa seu texto sobre as viagens das teorias, pensando que em contextos coloniais e de conflitos explícitos os textos podem ganhar outra potência de combate político).

Os fracassos de Saigon. State-Building ocidental e a gênese da Segunda Guerra da Indochina
Na falta de uma, a atual República Socialista do Vietnã teve que lutar três guerras de independência antes de se consolidar como Estado soberano: contra o Japão, a França e os EUA. Neste encontro discutiremos os eventos que antecipam a Segunda Guerra da Indochina (ou "Guerra do Vietnã", 1955-1975) como uma catástrofe diplomática protagonizada por três administrações do governo de Washington, de Dwight Eisenhower a Lyndon B. Jonhson. Por anos os EUA atuaram na cidade de Saigon como um poder moderador que guiaria o povo vietnamita à sua autonomia; na metade dos anos 1970, porém, já haviam despejado três milhões de toneladas de bombas na região, levando aproxidamente 5 milhões de pessoas a óbito, no que resultou em um dos maiores desastres humanitários do século XX. Nos focaremos na trajetória do Vietnã do Sul como um Estado-fantoche franco-americano, até o momento em que seu conflito contra o movimento revolucionário Việt Minh se reverte em uma guerra imperialista americana.
Palestrante: Felipe Vale da Silva
Data: 26/05/2023, atividade online.
Leitura primária: Alessandro Visacro. Guerra irregular: terrorismo, guerrilha e movimentos de resistência ao longo da história. São Paulo: Editora Contexto, 2009, pp. 121-143. (Resumo dos eventos que vão da invasão japonesa às duas Guerras da Indochina).
Leitura secundária: Andrew Wiest. The Vietnam War: 1956-1975. Oxford: Osprey Publishing, 2003, pp. 7-9, 12-20. (Sobre o contexto da Guerra Fria à entrada dos EUA como agente contrarrevolucionário)
Extra: Paulo Fagundes Visentini. A Revolução Vietnamita. São Paulo: Editora da UNESP, 2007, p. 17, 91-95, 107-119. (sobre os rumos do Vietnã após 1975)
Houve problemas na gravação do evento; contudo, há uma adaptação posterior da apresentação em formato Youtube (clique aqui).

Os mercados flutuantes de Banjarmasin. O uso do idioma e a cultura tradicional no comércio em Kalimantan do Sul.
Esta apresentação busca se aprofundar em um elemento regional de grande significado cultural, de grande influência na economia local e de características únicas da Indonésia. Constantemente ameaçados pela modernidade, os mercados flutuantes de Banjarmasin ainda se mantém como importantes pontos de comércio para os habitantes locais e fontes de atração turística exótica para os visitantes no sul da Ilha de Bornéu. Um dos objetivos é entender como o uso dos idiomas locais nesse mercados tornaram-se uma característica fundamental das relações sociais nas culturas regionais, bem como ferramentas importantes para a preservação delas.
Leitura 1: Muin, F. Language Use In Lok Baintan Floating Market of Banjar District of South Kalimantan. Indonesian Journal of Cultural and Community Development, n. 2, 2019.
Leitura 2: Zakiah, Sumarlam, Supana. Impact of maintaining the Banjarese language on Floating Market traders in Banjarmasin City". American Journal of Humanities and Social Sciences Research. v. 6, p. 60-62, 2022.
Palestrante: Miguel Carvalho
Assista à gravação do evento: https://www.youtube.com/watch?v=lFZ4RARHmeo

Ficções históricas de Timor-Leste
"Nesta apresentação discuto a produção fílmica sobre Timor-Leste em conexão direta com sua história política contemporânea. Após situar a linguagem audiovisual no contexto do colonialismo português e da ocupação indonésia, examino a produção no pós-independência, propondo uma leitura de contraponto entre três ficções históricas premiadas que abordam eventos críticos da luta de libertação: Answered by Fire (2006), Balibo (2009) e A guerra da Beatriz (2013). Especial atenção é dada às diferentes estratégias narrativas de construção de tempo, violência e gênero, categorias-chave que servem como guia na análise. Estabelecendo diálogos com a historiografia timorense, outras obras e criações contemporâneas e indagando sobre os sentidos de se transformar a história da luta de libertação em filmes de ficção, problematizo importantes momentos do nascimento da nação e também do cinema timorense, revelando enlaces profundos entre a produção audiovisual e a imaginação histórica, não só nas projeções sobre o passado mas também em suas fantasias sobre o futuro."
Leitura primária: De Lucca, Daniel. Ficções Históricas de Timor-Leste: tempo, violência e gênero na produção fílmica pós-independência. Afro-Ásia, n. 61 (2020, p. 270-320.
Palestrante: Daniel de Lucca
Assista à gravação do evento: https://www.youtube.com/watch?v=KswKPyXudPs

Brevíssima história do gamelan
Este encontro pretende tratar de aspectos históricos da formação da civilização javanesa, a partir do encontro, interação e hibridização de tradições animistas, hindu-budistas e islâmicas, destacando as relações de influência mútua entre religião e música. A chegada de povos do subcontinente indiano no arquipélago malaio produziu um grande impacto sociopolítico e religioso, bem como no desenvolvimento da escrita, literatura, arquitetura e da música. As cortes configuravam-se como grandes espaços de formação e fomento cultural, onde reuniam-se artistas, intelectuais, mestres religiosos e seus príncipes inclinados não só às artes da guerra, mas também às artes literárias e performáticas. A partir do século XV, inicia-se o processo de islamização da ilha de Java e o declínio do domínio hindu-budista, incluindo grandes Impérios como Majapahit. A atmosfera em torno das artes, no entanto, permaneceu em pleno desenvolvimento, isso porque o sufismo, vertente do Islã que predominava em Java naquele momento, manteve-se intimamente ligado às artes performáticas javanesas, incorporando-as às práticas religiosas (pois tampouco distinguia práticas religiosas de seculares) e levando-as para fora das cortes de forma integrada ao Islã, o que contribuiu significativamente para o espraiamento e popularização da nova religião.
Leitura primária: Sumarsam. Gamelan: Cultural Interaction and Musical Development in Central Java. Chicago: The University of Chicago Press, 1995, p. 13-47.
Palestrante: Cássio Daniel Siqueira
Assista à gravação do evento: https://www.youtube.com/watch?v=wQBaS-mwfdA

Balai Pustaka, ou a gênese do modernismo literário nas Índias Orientais Neerlandesas
A gênese do mercado literário moderno na Indonésia é indissociada de duas instituições da era colonial: a editora Balai Pustaka e os princípios de gestão da Ethische Politiek, ditados pela rainha Wilhemina da Holanda em 1901. Mais do que uma equipe de editores e literatos, a Balai Pustaka se expressou como uma agência multifuncional de socialização e transmissão de princípios políticos que visavam a formação de sujeitos imperiais -- foi tanto a agência que publicou os primeiros literatos profissionais das Índias Orientais, quanto aquela que controlou sua mídia e barrou a circulação de ideias subversivas. Veremos como essa presença ambivalente da Balai Pustaka serve de ponto de partida para entermos um tema constante na literatura indonésia até hoje: a questão do adat e identidade indígena na Modernidade. Teremos a chance de apresentar os primeiros clássicos modernos da literatura indonésia: "Sitti Nurbaya" de Marah Rusli, "Salah Asuran" de Abdul Muis e "Atheis" de Achdiat Karta Mihardja.
Leitura primária: Doris Jedamski. Balai Pustaka. A Colonial Wolf in Sheep's Clothing. Archipel, volume 44, 1992. pp. 23-46 (doi: 10.3406/arch.1992.2848)
Leitura optativa: F. V. da Silva. A quantas mãos se escreve a história da literatura? A política das divergências teóricas na Indonésia. Afro-Ásia, n. 62, 2020, pp. 270-298.
Palestrante: Felipe Vale da Silva
Assista à gravação do evento: https://www.youtube.com/watch?v=YvFwqDKohzs
Assista ao podcast derivado da palestra: https://www.youtube.com/watch?v=YvFwqDKohzs

Laboratório Singapura
Da administração colonial de Raffles ao governo Lee Kuan Yew, Singapura foi palco de experimentos pouco ortodoxos. Ela já era multiétnica e cosmopolita um século antes de o resto do mundo se globalizar. A Companhia das Índias Orientais Britânicas a idealizou como um laboratório de liberalismo econômico e valores iluministas; um século depois, transformava-se em uma mescla de socialismo de mercado (com estatização plena de seus serviços públicos e habitações) com o mais selvagem dos capitalismos em questões de comércio exterior. Hoje, a cidade-Estado de 6 milhões de habitantes é a segunda economia do mundo em renda per capita. Sua solidez econômica, porém, não a exime de desafios para a próxima geração: o problema da insegurança internacional, a dependência excessiva em mercados de exportação, além do autoritarismo do partido que, de fato, nunca deixou o poder, o PAP.
Leitura primária: Michael D. Barr. Singapore. A Modern History. London: I.B.Tauris, 2019, p. xix-xxi, 1-6.
Gustavo Milhomem. "Singapura: da ilha isolada ao estrelato mundial". Dois níveis. Disponível em: <https://www.doisniveis.com/asia/sudeste-asiatico/singapura-da-ilha-isolada-ao-estrelato-mundial/>
Leitura optativa: James Michael Baker. Crossroads. A popular history of Malaysia & Singapore. Marshall Cavendish, 2012, p. 73-89.
Palestrante: Felipe Vale da Silva
Assista à gravação do evento: https://www.youtube.com/watch?v=nV1EbY1DnhI
Assista ao podcast derivado da palestra: https://www.youtube.com/watch?v=d9eQgjAdhFU&ab_channel=AetiaEditorial

A China e a Promoção da Autocracia no Camboja
Laços entre regimes autoritários aumentam a sua sobrevivência em momentos de crise. A assistência econômica, militar e diplomática da China para o Partido Popular do Camboja (PPC) permitiu a consolidação do autoritarismo hegemônico no Camboja. Ao mesmo tempo, os laços entre Pequim e o PPC são benéficos para os interesses estratégicos e militares da China no Sudeste Asiático.
Texto para leitura: LOUGHLIN, N. Chinese linkage, leverage, and Cambodia’s transition to hegemonic authoritarianism. Democratization, v. 28, n. 4, 2021.
Palestrante: Henoch Gabriel Mandelbaum.
Assista à gravação do evento: https://www.youtube.com/watch?v=0oqGpyJUEnc

Regionalismo Minahasa
Este encontro pretende apresentar e analisar de maneira introdutória o regionalismo e o grupo étnico Minahasa. Serão abordados tanto os relatos das peculiaridades do período pré-colonial quanto as influências estrangeiras e a dominação holandesa, além do surgimento do próprio termo Minahasa em Celebes do Norte.
Leitura do capítulo “Minahasa as a Territorial Unit”. In: HENLEY, David. Nationalism and regionalism in a colonial context, Minahasa in the Dutch East Indies, 1992, 450 f. Tese (Doutorado). Australian National University, Camberra, 1992. p. 44-83.
Palestrante: Miguel Carvalho.
Assista à gravação do evento: https://www.youtube.com/watch?v=3j98fDeqL94&ab_channel=MiguelCarvalho

O legado de Tirto Adhi Soerjo
Em 1903, Raden Mas Tirto Adhi Soerjo, jovem priyayi (classe de nobres, oficiais, administradores e regentes locais javaneses) publica o Soenda Berita, primeiro jornal em língua malaia produzido por e para nativos na Indonésia. A primeira edição do jornal é publicada em 17 de agosto (que viria a ser também, coincidentemente, a data de independência da Indonésia, conquistada somente quatro décadas mais tarde, em 1945).
Mas Tirto mudou o curso da imprensa de sua época, que até os fins do século XIX era monopólio de eurásios e chineses e não contava com a participação de nativos; atuou como correspondente e editor de diversos jornais, fundou o Poetri Hindia, periódico destinado a mulheres nativas da nobreza, e o Medan Prijaji, através do qual ficou conhecido por denunciar e criticar abertamente oficiais do governo colonial e lideranças nativas, o que o levou diversas vezes ao tribunal e ao exilio.
No nosso próximo encontro, vamos discutir como o engajamento político na escrita de Tirto Adhi Soerjo, associado ao seu envolvimento no movimento Sarekat Islam influenciou, de maneira crucial, no desenvolvimento de uma consciência nacional indígena.
Leitura de base: "The growth of the Indonesian-owned press". In: Adam, Ahmat B. The vernacular press and the emergence of modern Indonesian consciousness (1855-1913), 1984.
Palestrante: Cássio Daniel Siqueira.

Kartini, 100 anos depois
No aniversário de um ano do grupo de estudos discutimos o centenário de Raden Adjeng Kartini. Kartini foi uma pioneira do pensamento feminista e anticolonial na Java da época da Ethische politiek holandesa; na Indonésia seu legado vem sendo ressignificado a cada geração que passa. Leremos trechos de seu único livro e pensaremos a instrumentalização de figuras históricas radicais na atualidade.
Leitura: Habis Gelap Terbitlah Terang, de Raden Adjeng Kartini (tradução inglesa: Letters of a Javanese Princess). Comentário sobre a versão indonésia recente de Joost Coté.
Palestrante: Felipe Vale da Silva.
Assista a uma adaptação posterior do evento: https://www.youtube.com/watch?v=mXwsw5oEwfU

História da Língua Indonésia
Leitura básica para o encontro:
Adelaar, K. Alexander. Malay: a short history. Oriente Moderno, Nuova serie, Ano 19 (80), n. 2, Alam Melayu il Mondo Malese: lingua, storia, cultura (2000), p. 225-242.
Palestrante: Cássio Daniel Siqueira.

O pilar econômico da ditadura de Suharto
Liem Sioe Liong foi o principal empresário por trás do ditadura de Suharto. Em troca de fundos para a manutenção do Estado policial, sua família obteve (e ainda detém) controle de monopólios do cimento, indústria petroquímica, supermercados e alimentos no país. Isolaremos a história surreal do macarrão Indomie na Indonésia para entender como a lealdade de Suharto a empresários e ao mercado financeiro ocidental garantiu sua presença no poder por mais de três décadas.
Leitura:
Capítulo 1 de "Liem Sioe Liong’s Salim Group: the business pillar of Suharto’s Indonesia", por Richard Borsuk and Nancy Chng. Singapore: ISEAS Publishing, 2014, p. 1-20.
Material complementar:
TV Cultura. Arquivo Especial sobre Suharto (1 minuto) | https://www.youtube.com/watch?v=aH_m4Szh0h8
ANU TV. Suharto's legacy (5 minutos, com legenda) | https://www.youtube.com/watch?v=N47qFco64VM
Palestrante: Felipe Vale da Silva.
Assista a uma adaptação posterior do evento: https://www.youtube.com/watch?v=q9oH00tSvo8

Keroncong Tugu
Keroncong Tugu, a música popular dos "portugueses pretos" na Indonésia Colonial.
Leituras: GANAP. Krontjong Toegoe in Tugu Village
GUISAN. Vestígios do sonho português no sudeste asiático
Palestrante: Cássio Daniel Siqueira.

A ideologia da invasão militar: sobre o conceito de "historicismo imperialista" e a presença estadunidense nas Filipinas entre 1899 e 1913
Discussão do texto “Making Moros: Imperial Historicism and American Military Rule in the Philippines’ Muslim South”, de Michael C. Hawkins (2013), p. 3-14, 20-25, 26-32.
Em duas ocasiões, os EUA trouxeram 'espécimes coloniais' de suas colônias para apresentar em feiras nacionais de novidades e tecnologia, que eram eventos importantes para a época, como as Bienais aqui. Em 1899 e 1904, houve dois eventos grandes eventos em que levaram espécimes filipinos.
Palestrante: Felipe Vale da Silva.
Assista a uma adaptação posterior do evento: https://www.youtube.com/watch?v=5yKO0mHhHXk

Políticas galácticas: o sultanato de Yogyakarta e o vulcão Merapi
Leitura: capítulo 3 do livro de Michael R. Dove (A Non-Western Panopticon - The Yogyakarta Sultanate and Merapi Volcano, 2021).
Palestrante: Cássio Daniel Siqueira.

W. S. Rendra e o modernismo literário indonésio
O assunto é o teatro popular de Willibrordus S. Rendra, o "Brecht indonésio".
Leitura: "The Struggle of the Naga Tribe", por W. S. Rendra (trad. Max Lane pela Penguin Books Australia).
Palestrante: Felipe Vale da Silva.
Assista a uma adaptação posterior do evento: https://www.youtube.com/watch?v=vSscTqByfz4

Jiwa berdangdut: a construção do 'povo' na música popular indonésia
Leitura: capítulo 4 - Music and Rakyat : Constructing “the People” in Dangdut - do livro "Dangdut Stories" de Andrew N. Weintraub.
Palestrante: Cássio Daniel Siqueira.

O Islã na Indonésia
Leitura: Capítulo introdutório de Clifford Geertz. "Islam Observed".
Palestrante: Felipe Vale da Silva.
Assista a uma adaptação posterior do evento: https://www.youtube.com/watch?v=rTCVihBzPUk

O reino de Srivijaya e a sanscritização do Sudeste Asiático
Palestrante: Cássio Daniel Siqueira.

